15.6.10

book wish

andava há meses atrás do al berto, mais uma editora falida e não havia meio de o encontrar, já tinha chegado a encomendar online, mas recebi email a dizer que estava esgotado. como diz o dito, quem procura sempre alcança e por fim consegui.

e o livro começa assim:

"um dia li num livro: viajar cura a melancolia.
creio que, na altura, acreditei no que lia. estava doente, tinha quinze anos. não me lembro da doença que me levara à cama, recordo apenas a impressão que me causara, então, o que acabara de ler.
os anos passaram – como se apagam as estrelas cadentes – e, ainda hoje, não sei se viajar cura a melancolia. no entanto, persiste em mim aquela estranha impressão de que lera uma predestinação.
a verdade é que desde os quinze anos nunca mais parei de viajar. atravessei cidades inóspitas, perdi-me entre mares e desertos, mudei de casa quarenta e quatro vezes e conheci corpos que deambulavam pela vasta noite… avancei sempre, sem destino certo.
tudo começou a seguir àquela doença.
era ainda noite fechada. levantei-me e parti. fui em direcção ao mar. segui a rebentação das ondas, apanhei conchas, contornei falésias; afastei-me de casa o mais que pude. vi a manhã erguer-se, branca, e envolver uma ilha; vi crepúsculos e noites sobre um rio, amei a existência.
dormia onde calhava; no meio das dunas, enroscado no tojo, como um animal; dormia num pinhal ou onde me dessem abrigo, em celeiros, garagens abandonadas, uma cama…
e quando regressei, regressei com a ânsia do eterno viajante dentro de mim.
hoje sei que o viajante ideal é aquele que, no decorrer da vida, se despojou das coisas materiais e das tarefas quotidianas. aprendeu a viver sem possuir nada, sem um modo de vida. caminha, assim, com a leveza de quem abandonou tudo. deixa o coração apaixonar-se pelas paisagens enquanto a alma, no puro sopro da madrugada, se recompõe das aflições da cidade.
a pouco e pouco, aprendi que nenhum viajante vê o que outros viajantes, ao passarem pelos mesmos lugares, vêem.
o olhar de cada um, sobre as coisas do mundo, é único, não se confunde com nenhum outro.
viajar, se não cura a melancolia, pelo menos, purifica. afasta o espírito do que é supérfluo e inútil; e o corpo reencontra a harmonia perdida – entre o homem e a terra. "

1 wish/es:

marigold disse...

Este livro daria para uma grande dissertação. Viajar purifica, cura, eleva-nos, é como o acordeão.

mermaid wishes