18.6.07

share and share alike (8)


o sr. josé


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o sr.josé foi doente do meu avô, avô esse que não conheci, deixou-nos em 1964 (tinha o meu pai 13), anos mais tarde o sr. josé cuidou do jardim da minha avó.

o sr. josé tem 80 anos e é assim uma daquelas pessoas que não tem o tempo marcado na pele, mas antes a sabedoria.
há uns anos atrás quando estudávamos no jardim brindadas pelo sol que se fazia sentir, ouviam-se (mais do que o desejado) uns senhores em conversa chamemos-lhe 'amena' por perto, soube depois que o sr. josé (protector) lhes tinha ido pedir para dobrarem a língua pois havia meninas a tentar estudar para os exames.

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hoje o sr. josé veio cá casa, apressei-me a ir recebe-lo à porta e assim que me viu contou-me como tinha sido assustador estar internado no pedro hispano, no s.joão e depois outra vez no pedro hispano. tudo isto no espaço de duas semanas.

mas logo exclamou "ai o meu jardim", o seu que é meu, corrijo nosso.
o sr. josé divide com o meu pai a tarefa de olhar pelo nosso jardim. foi ao hospital fazer uma biópsia e teve uma reacção alérgica(infecção), dai ter andado 15 dias fora e dentro dos hospitais.
foi então que depois de me contar resumidamente o que se tinha passado, me perguntou delicadamente:

- "menina posso ir ver o jardim? matar saudades", foi então que os olhos humedeceram.
- oh sr. josé claro que pode ir ver o jardim, afinal é seu.

enquanto eu conversava com a mulher do sr. josé, não pude deixar de reparar que tirou o casaco foi amarrar uma fita aos maracujás, verificar como estavam as framboesas e ver como se tinham aguentado as azálias e camélias sem a sua companhia.
isto ao mesmo tempo que esperava o meu pai, para que este visse o exame, o olhar não me enganou quando o fez, conheço bem aquelas sobrancelhas carregadas:
- " talvez tenha de ser operado à próstata", revelando-me mais tarde ser cancro na próstata, com 'relativamente' fácil tratamento.
a mulher do sr. josé foi partilhando comigo a aflição que tinha sido vê-lo com 40 graus de febre e a correria para o hospital.
- "menina até lhe vinham as lágrimas aos olhos quando estava internado e dizia o que vai ser do meu jardim".

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estas palavras ainda ecoam em mim.



9 wish/es:

Rainha das cores disse...

pois eu rendo-me, isto é forte demais... depois de ver a foto que me mandaste andei a tarde toda com o sr jose em pensamento. Já tinha o post na cabeça, passei por aqui e imagina... aqui está!
que as fadas protejam o senhor josé. Queremos muitos maracujas e framboesas e azálias e camélias e relva relva relva para dar saltinhos em tardes de calor e banhos no jardim!

as velas ardem ate ao fim disse...

texto lindo que reflecte tudo aquilo que esta escrito no meu 2juro que não vou esquecer.."

obrigada pela visita e bjinhos

8vou continuar a passar)

marigold disse...

Mais uma evidência que tudo no mundo tem o cunho, a significação de quem a dá. Tudo depende do lado de dentro, do que temos cá dentro, dos olhos que vêem e não dos olhos que falam. Esperemos que o Jardim continue sendo o Jardim do Sr. José.

Lis disse...

Bonitas memórias, estórias.

Anónimo disse...

Bonito jardim mana :)

Inês disse...

que maravilha de jardim...*

e que generosa e comovente forma de ser: "corrijo, nosso."


***

starfish disse...

rainha das cores

é verdade, sintonia é forte demais. queremos isso tudo. tb gosto mt d sr.josé, vai correr tudo bem***
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as velas ardem até ao fim

tb eu agradeço a visita, gostei imenso d crónica d lobo antunes q ainda n tinha lido, obrigada.
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marigold

continua sim, esta semana veio vê-lo duas vezes e diz q p semana já cá está a trata-lo como ninguém.
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lis

tinhas d conhecer o sr.josé, é um doce d pessoa.
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anónimo

ou n fosse o teu :)
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inês leal, 31 anos à volta do sol

obrigada.
nada disso q gentileza, agora pronto, resultado - flushed, red in the face*

Balancinha disse...

Também quero um jardim... E um sr. José...

Anónimo disse...

Eu sou brasileiro e atualmente estou fazendo PhD em historia economica na LSE sobre o ciclo da borracha na Amazonia Brasileira. Noticias sobre o Joao Henrique Andresen que voce encontrou na foto em Manaus: ele fundou uma firma de comercio de borracha em Manaus e era um dos maiores (por alguns anos o maior) recebedor de borracha de Manaus. A firma era conhecida como Armazens JH Andresen ou simplesmente JH Andresen. A firma, aparentemente, era de origem Portuguesa (Porto). Tenho olhado alguns dados sobre firmas que compravam borracha de JH Andresen e elas indicam que o comercio era mesmo feito atraves do Porto. Espero que isso ajude vc a descobrir quem foi exatamente o tal JH Andresen. Se vc tiver mais informacoes sobre ele, eu teria interesse. Havia outros membros da familia envolvidos no negocio: Jane, Gustavo, etc. Meu nome é Felipe Tamega, email: felipe@tamega.com.br.

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