2.11.06

tears






quantos segredos contamos e guardamos?
quantas aventuras vivemos?
quantos planos arriscados pusemos em prática?
quantas vezes descobrimos o esconderijo das chaves da dispensa para ir aos rebuçados/caramelos?
quantos saltos e corridas a alta velocidade?
quantos banhos na piscina?
  • que tanto eram de dia como de noite
  • que duravam horas e horas
  • até ao derradeiro teste do vuvu quando tínhamos de sair e mostrar as mãos com a pele a virar peixe e os lábios roxos que não permitiam engano
  • nos davam direito a umas quantas corridas à volta da piscina para aquecer
  • as provas para ver quem apanhava mais pastilhas de cloro no fundo da piscina
  • com a lavagem antecedente da piscina e em que vibrávamos com a água a chegar ao terceiro e quarto degrau

quantas subidas ao galinheiro para comer as tão célebres uvas?
quantas noites passadas em vermoim?
quantas vezes terei lá dormido?


lembraste?


e a passagem secreta da cave para as galinhas?as corridas nos campos de milho?jogos sem fronteiras? (e tudo quanto nos pudéssemos lembrar)Casa na árvore com umas quantas tábuas de madeira também não podia faltar os castanheiros lá ao fundo onde ficava o adubo?a vacaria onde vimos porcos pequeninos e vitelos acabados de nascer (acho que ainda sou capaz de sentir o cheiro a leite gordo de tão intenso que era).o palheiro onde construímos muralhas com os fardos?e onde íamos assustar as pombas nos telhados? (as escadas de madeira já podres).a colmeia junto ao local da plantação dos morangos (tapados com aquele plástico preto).e quando descobrimos uma ninhada de descendentes do snoopy?e os leõezinhos? como nos fomos lembrar daquela brincadeira? só podes ter sido tu – qual sportinguista!atirávamos comida às raposas, enfiávamos nos no sítio dos gansos e escalávamos aqueles três andares.Ovos cozidos na Páscoa partidos nas cabeças uns dos outros, tradição que só a nossa família parece ter...até na carrela (carrinho de mão ou sei lá o que era) nos púnhamos lá dentro e era a empurrar por ali abaixo.“o primeiro acordar, acorda o outro” e assim era, cumpríamos.parece que me safei da saga dos puzzles, mas não da dos desenhos animados. não sei se é real, mas tinha a sensação que acordávamos às 6h da manha para os ver e tu gravavas tantos!lembraste da colecção da disney? que tinha o livro e a respectiva cassete áudio? cada volume com a sua cor?sei que num dos quartos (talvez o que havia sido da uta) tinhas uma colecção de cromos do bollycao, já não sei precisar se era aquela do ‘tou’ se a de uns fantasmas (Casper) que brilhava no escuro.Sim, lembro-me do preciso momento em que fugimos e a mesa de mármore da cozinha caiu em cima do teu pé…lembraste quando fomos deixar os cães ao marco com o vuvu?Lembraste do ‘um esconde se e todos procuram’? havia sempre tantos sítios possíveis ‘papinha cerelac’ e ‘rebenta a bolha’.a apanha das batatas no campo em frente.os banhos no tanque, por baixo do palco do teatro.e quando o teu pai numa festa de anos tua, deu a todos aquelas caixas de gorila gigantes!!!


parecia magia


tu ficaste com as de tuti-fruti e nós com menta, duraram uma eternidade.


mas isso era no tempo em que éramos imortais, por isso não tínhamos medo de alturas, de quedas do poly, de arranhões, de joelhos sempre pisados, de frio ou chuva, de jogos de futebol no quinteiro (lá se iam os vasos da vovó), de brincadeiras no consultório ou lá em cima no terraço.podíamos correr por aqueles campos até não puder mais.Nessa altura éramos todos e éramos tantos.era o tempo dos tomates do aroso, das ameixas atrás da piscina, da estufa e seus balneários, das rãs e dos sapos, do manuel peninha, da carlota joaquina e do gonça pilatos, das papas de sarrabulho, dos ovos estrelados naquela frigideira tão típica, da vovó com pintainhos no bolso do avental.…passaram tantos anos e tivemos direito a um banho de realidade...ficou a cumplicidade, a confiança, a amizade e a compreensão (por vezes nem são precisas palavras, basta um olhar ou um sorriso).


quero que saibas que qualquer que seja o caminho tou contigo!



1 wish/es:

Anónimo disse...

É verdade que existe uma grande fonte de sabedoria naquela frase do Saramago que repito pra mim mesma em alguns dos piores momentos: "Nada é para sempre dizemos. Mas ha momentos que parecem pairar sobre o fluir inexorável do tempo". Podemos traduzir isso por miúdos, e falar em Lembranças, nos báus da Infâncias, nos sotões, e até no pó que os anos lhes juntam. Anyway, muitas vezes me convenço que é talvez isso a unica coisa que vale a pena. As lembranças. O pó dos báus. E as gentes que nos transformam. ***

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